quinta-feira, 6 de outubro de 2016

3º Minifórum de Educomunicação discutiu sobre Educação Sexual

Em setembro, o Núcleo de Educomunicação da Fundação Julita realizou a terceira edição do Minifórum de Educomunicação, com o tema “Vamos Falar sobre Educação Sexual?”. A discussão contou com a presença da enfermeira e especialista em docência no ensino superior na área da saúde, Morgana Fagundes; da técnica em prevenção de DST/HIV/AIDS, Tabata Alves, e das psicólogas Manuela Crissiuma e Andrea Kathleen G. Killing. A mediação do debate foi feita pelo psicólogo e coordenador do Centro de Educação em Saúde da Fundação Julita, Agnaldo Vieira.
Estavam presentes cerca de 100 pessoas; dentre elas, educadores, jovens, pais e comunidade. O debate girou em torno das questões de educação sexual nas escolas e na família, abuso sexual e legislações sobre o tema.

Para abrir o Minifórum, jovens do Programa Paineira fizeram uma intervenção artística a partir do documentário “Desumanidades – cinco relatos sobre violência sexual”. A intervenção abordou situações de assédio e abuso sexual, servindo como provocação para a discussão.



O que fazer diante do contexto em que estamos?

Agnaldo Vieira iniciou sua fala com dados do território do Jardim São Luís, mencionou que o bairro é o que mais apresenta indícios de casos de estupro dentro da cidade de São Paulo, apesar de ser o território que mais tem equipamentos de proteção. Também disse que, em 2015, houve mais de 2.100 casos de estupro somente na cidade de São Paulo e que, neste ano, já foram registrados 1.400 casos. “O que fazer? Como fazer? Acredito que a educação faz parte desse combate”, afirmou Agnaldo.

 

A problemática nas escolas

Morgana Fagundes, em sua fala inicial, contou sobre o trabalho que desenvolve nas escolas públicas do Jardim São Luís e disse que, apesar do interesse dos alunos, infelizmente, são poucos professores que apoiam o trabalho de educação sexual nas escolas. Das 15 escolas em que atua, somente dois professores percebem a importância do trabalho.
Outra questão apontada é a dificuldade da aceitação da família sobre a educação sexual nas escolas. Segundo Tabata e Andrea, ainda é um tabu falar de sexo e prevenção por fatores culturais. Morgana afirma que o espaço do Minifórum já é uma abertura para falar sobre o tema e mostra que discutir sobre esse assunto é muito importante.

 

Violência doméstica

Andrea Killing disse que, na unidade de Serviço de Proteção Social para crianças e adolescentes vítimas de violência no Capão Redondo, 95% dos casos são de abuso sexual  e a maioria desses casos é de violência intrafamiliar, ou seja, está dentro do ambiente familiar. Para Morgana Fagundes, o abuso não é somente o ato físico, mas pode estar nas palavras, no jeito que se fala com o outro. Já Manuela Crissiuma falou que quando se pergunta o que é abuso, grande parte das pessoas já se refere ao abuso sexual e questiona: “Será que todo abuso é sexual? Como a gente define o que é abuso sexual?” Segundo a psicóloga, se a gente não escutar o outro, sobre o modo como ele se sente abusado, também estaremos o tempo inteiro cometendo abuso. “O abuso também se dá pela relação de poder”, afirma Manuela.
A psicóloga Andrea Killing afirma que, pela lei, é considerado abuso sexual qualquer tipo de relação sexual com crianças e adolescentes menores de 14 anos.

 

Aids entre os jovens

Um resultado da falta de informação e orientação sobre o tema ainda gira em torno das doenças sexualmente transmissíveis. Tabata Alves discorreu sobre dados referentes à transmissão de DST/HIV/AIDS e afirmou que os jovens entre 12 e 24 anos são os mais infectados com o vírus HIV e a infecção normalmente acontece na primeira relação sexual.

 

A justiça existe?

O público também perguntou sobre a legislação, sua funcionalidade e o porquê da demora na maioria dos casos de abuso sexual.  Para responder, a psicóloga Andrea Killing mencionou o artigo 227 da Constituição Federal, que diz que é papel da família, da comunidade, da sociedade e do Estado zelar, cuidar pelos diretos das crianças e adolescentes. Porém, quando a família, a comunidade e a sociedade não cumprem seu papel, o Estado intervém e essa intervenção às vezes é invasiva.
“Há maneiras e maneiras de se intervir. Há limites”, completa ela, que também reconheceu o quão ineficiente é o sistema judiciário e quanto se torna cansativo para a família recorrer a ele.
O Minifórum terminou com algumas provocações: Se a justiça é lenta e não cumpre o seu papel o que podemos fazer? Como romper com a educação que nos é dada? Como garantir que todas as pessoas tenham acesso a uma educação sexual que seja de fato efetiva? Como romper com as relações de poder existentes, principalmente a de gênero?
Para finalizar, Jânio de Oliveira, gestor pedagógico da Fundação Julita, lembrou o quanto ter um espaço como este é importante para a ampliação e o fortalecimento do conhecimento e também para garantia de direitos. “É fundamental que todos se apropriem de espaços como o do Minifórum”, completou ele.
Você poder conferir como foi o evento, assistindo acessando os links:

 

O Minifórum e a Educomunicação na Julita

O Minifórum de Educomunicação é uma das ações do Núcleo de Educomunicação que desde 2014 atende mais 200 crianças e jovens atendidos pelos Programas Ipê Amarelo e Paineira, com atividades que desenvolvem o senso crítico, o diálogo, participação e o entendimento dos meios de comunicação e da mídia.


























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